ADVERTÊNCIA

Este Blog contém algumas de minhas ideias, crenças e valores. Por não ter o objetivo de ser referência, não deve ser acolhido como "argumento de autoridade" e, muito menos, como verdade demonstrativa, cartesiana.

Aqui o leitor encontrará apenas reflexões e posições pessoais que poderão ser peneiradas e, por isso mesmo, rejeitadas ou aceitas, odiadas ou amadas. Assim, não espere encontrar fidelidade a alguma linha de pensamento ou a uma ideologia em particular. Permito-me a contradição, a incerteza, a hesitação, a descrença, a ironia; permito-me pensar.

Após as leituras, sei que uns concordarão, outros não, e haverá também os que encerrarão a visita levando uma pulga atrás da orelha. Não me importo. Se causar alguma reação, mesmo o desassossego, considero que atingi o meio. O fim fica por sua conta.

Abraços a todos e boa leitura.

PS: Acesse também: http://moisesolim1.blogspot.com.br/

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

REALIDADE X FÉ: A CRISE INSTAURADA

Moisés Olímpio Ferreira

Romanos 8:18-23: "Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós. A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus. Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora. E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo."

Não podemos negar que de tempo em tempo nós nos encontramos dispostos a repensar a presença e a ação de Deus na nossa vida, na dos outros e na do mundo. Diante das inúmeras situações funestas, das fortes imagens que vemos pela TV, das chocantes notícias que lemos nos jornais, das duras experiências de nossa própria vida e das de pessoas próximas de nós, é impossível que o ser humano não se depare com situações que exijam avaliação quanto à existência, à atividade, à influência, à imanência de Deus no mundo.

Polêmicas não são novidades dentro da História do Cristianismo. Constituir controvérsias é bem próprio do caráter - ao mesmo tempo perscrutador e insatisfeito - do ser humano.

Realmente consigo compreender aqueles irmãos dos primeiros séculos que sentiam dificuldade em ouvir sobre Jesus-homem (que experimentou a fome, o cansaço, a tristeza, a dor, a morte...) e crer que ele era “a habitação de toda a divindade” (Colossenses 2.9); parte de suas mentes estavam simplesmente confusas. E será que algo semelhante já não se passou conosco, mesmo que a respeito de outra matéria?

Talvez o debate sobre a natureza de Cristo não esteja muito mais em pauta; é improvável que façamos Concílios para definir os rumos da Igreja (mesmo porque a sua unidade institucional está esfacelada e, da Reforma, sobraram apenas algumas expressões morbidamente racionais de religiosidade) sobre as controvérsias arianas em suas expressões religiosas modernas, ou sobre a trindade, ou sobre a questão iconográfica.

Mas outras questões ainda estão sem resposta satisfatória. Como explicar que muitos ainda são mortos por balas perdidas? Que gente morre com certa freqüência durante assaltos? Que mulheres e crianças são violentadas física e psiquicamente? Que garotos de 12 anos possam matar a avó a facadas? Como justificar a dor dos pais que tiveram seu filho de 6 anos arrastado por ruas afora até à morte? Como conviver com a crueldade das guerras, das pestes? Como permanecer indiferentes diante do fato de que milhares de pessoas estão morrendo de fome no mundo? Como ver um amigo, um pai, ou um filho agonizando sobre uma cama? Como entender um mundo tão violentado pela pobreza, pela miséria, pelo terrorismo econômico e armado? Podemos fechar os olhos à imensa lista de violência, de dor, de mágoa, de traumas, de tristezas profundas? E, para piorar, como ficar indiferente a tantos escândalos no meio das igrejas chamadas “evangélicas”? Quando olhamos para esses poucos fatos entre milhares de outros, realmente entramos em choque.

Como entender Deus no quotidiano humano sem reduzir, entretanto, o Seu amor, ou sem torná-Lo impotente?

Poderíamos dizer que tudo isso aconteceu pela “vontade divina”? Que tudo já tinha sido predeterminado em Seu livro? Que os 154 mortos pela queda do avião da Gol e os quase 200 da TAM tinham seus nomes na lista “negra” de Deus? Que o desastre do buraco do metrô foi uma necessidade fatal? Que os que ficaram sob os escombros morreram porque chegou a hora pré estabelecida de eles irem para o outro mundo?

Alguns tendem a “explicar” por meio da velha idéia de que o “sofrimento” é para o nosso bem, e a partir daí, justificam tudo o que ocorre de mal na vida humana. Deus, em sua sabedoria, dizem, considera o sofrimento como uma alavanca espiritual; assim crescemos com a dor, com a perda, com a desgraça, pela convivência com os males. Essa explicação tem a pretensão de tornar as pessoas mais resignadas, conformadas com as catástrofes. “- Deus sabe o que faz”, dizem. Mas teria sido realmente Deus que arquitetou essas situações para chamar pessoas à glória ou enviá-las ao inferno?

É verdade que a nossa reação positiva diante do sofrimento traz certo amadurecimento (e isso serve para qualquer pessoa, cristã ou não). Mas, pergunto: o que o povo iraquiano tem aprendido com o sofrimento senão que o Deus do mundo ocidental é invasor, injusto e mal? O que muitos africanos têm aprendido com as guerras civis, com a fome e com a aids, senão que estão esquecidos pelo resto do mundo cristão?

Outros, para não reduzirem o amor de Deus face às desgraças, preferiram acreditar em que, para Deus, os fatos são cogniscíveis na mesma proporção que eles são para nós, de modo que Ele sofre e é surpreendido pelos acontecimentos imprevisivelmente desastrosos. Deus tem compaixão - sofre junto conosco -, mas não pode fazer nada para evitar! Propõem a reavaliação da natureza de Deus para que o Seu amor fique intocável. O que é interessante nessa idéia é que estão subjacentes as crenças de que Deus tanto não é onisciente quanto não tem capacidade – na construção da história - de aprendizagem, haja vista que sempre – mesmo quando outros fatos desastrosos se repetem em condições semelhantes – é surpreendido pelo acaso.

Essas respostas, ou geram pessoas conformadas e conformistas, ou têm sido um “tiro no próprio pé”, porque a natureza de Deus, de alguma forma, está sempre posta em questionamento.

O que na verdade ainda não temos aceitado é que Deus valoriza a liberdade e não a anula mesmo que ela produza resultados indesejáveis. Deus estabeleceu leis naturais às quais todos nós estamos sujeitos. Se eu pular de um prédio, se eu tomar veneno ou um remédio incorreto, se eu me ferir, é bem provável que naturalmente eu fique doente ou morra, independentemente de Ele conhecer os fatos de antemão ou de me amar profundamente! Se houver um terremoto, um tsunami, um furacão, se o avião cair, se alguém provocar ferimentos em nós, se cairmos num abismo, sofreremos (cristãos ou não) naturalmente as conseqüências desses acontecimentos (dentre os quais muitos são conseqüências da própria destruição que o homem tem feito a si e ao planeta!). Se pela maldade os homens são capazes de matar, roubar, destruir, o problema não está na falta de onisciência ou na falta de amor da parte de Deus, nem tão pouco em um trabalho divino bizarro de dar crescimento a alguém pelo sofrimento. Isso é balela que objetiva espiritualizar as questões de ordem natural.

No que se refere a este mundo, Deus está no controle de todas as coisas pelas leis que Ele estabeleceu e às quais devemos obedecer se quisermos viver bem. Veja, leitor, que até mesmo às leis situacionais criadas pelos homens a Bíblia, não por acaso, recomenda obediência:

"Sujeitai-vos, pois, a toda a ordenação humana por amor do Senhor; quer ao rei, como superior; quer aos governadores, como por ele enviados para castigo dos malfeitores, e para louvor dos que fazem o bem" (1 Pedro 2:13-14).

“Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. 2 De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação. 3 Porque os magistrados não são para temor, quando se faz o bem, e sim quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela, 4 visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal. 5 É necessário que lhe estejais sujeitos, não somente por causa do temor da punição, mas também por dever de consciência. 6 Por esse motivo, também pagais tributos, porque são ministros de Deus, atendendo, constantemente, a este serviço. 7 Pagai a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra, honra” (Romanos 13:1-7).

Então surge a questão: Deus apenas controla pelas leis naturais? Abandonou-nos Ele à sorte dessas leis que se tornaram graves “por causa do” e “contra” o homem pecador? De modo nenhum! Seu desejo é estar em tudo e em todos, embora permaneça, pelo livre arbítrio, mais próximo dos querem crer! Ele realmente se compadece de nós e nos auxilia na carreira que percorremos; ele sabe o porquê do nosso sofrimento e o quanto ainda sofreremos! O que não podemos esquecer (e muito menos espiritualizar) é que estamos ainda vivendo sob as leis naturais que regem este mundo (e o mundo, sob as leis que regem o cosmos), e isso tem a ver com o quanto Ele nos ama, pois elas foram criadas para o bem. Se elas entretanto causam males, não é pela falta do Criador, mas pela da criatura e do pecado que a sujeita e, quanto a isso, Ele não está apático, pelo contrário, prepara o momento de restauração e de libertação. Paulo afirma que “a ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus”, pois a esperança que tem é a “de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus”.

Pode Ele interferir nessas leis? Sim, Ele pode! (abriu o mar, acrescentou 15 anos na vida de Ezequias, manteve Jonas vivo no ventre do peixe, fechou a boca dos leões famintos, curou cegos, paralíticos etc), mas não é essa a Sua maneira quotidiana de ação e não podemos julgá-Lo pelas ações pontuais. Deus é amor (1João 4.8), mas o mundo jaz no maligno (1 João 5.19) e é neste mundo que nós vivemos! As dores, os males, as tristezas, as catástrofes são próprias deste mundo que jaz no maligno, governado por homens cujas mentes estão corrompidas pelo pecado e habitado por seres humanos que estão contaminados pela rebeldia. Vivemos aqui e sofremos neste corpo de humilhação (Filipenses 3.21) tudo o que é natural a este lugar! Ora “sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora” e, portanto, “também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo”.

Não devemos tentar viver o “triunfalismo” que ouvimos na mídia, como se estivéssemos imunes a tudo e a todos, porque certamente nos desapontaremos por razões incorretas com Deus. Toda a humanidade passa pelas mesmas aflições, mas o cristão tem o exemplo maior de sofrimento e de triunfo: o seu mestre Jesus. As mesmas palavras ditas aos discípulos servem para nós: “No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (João 16:33).

A nossa mensagem ao mundo deve ser de esperança em meio a tudo isso: “Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós”. A boa-nova que a igreja porta não é a de triunfo humano, não é a de conquista financeira e de vitória material, de livramento de doenças e de proteção angelical 24 horas, de plantar dinheiro e colher dinheiro, ou de que Deus está se desenvolvendo na história – isso tudo é bobagem! -, mas é a de ESPERANÇA de que Ele não está insensível, de que Ele sabe, pode, quer e está fazendo alguma coisa. Desde as eras primitivas Ele já estava trabalhando nessa intenção, até que ocorre entre os humanos o fato mais inefável: Deus-Filho arma a sua tenda entre nós! Assim, embora antes estivéssemos “...sem Cristo.. não tendo esperança e sem Deus no mundo”, agora, revitalizados e revivificados pela aproximação proporcionada “...pelo sangue de Cristo” (Efésios 2:12-13), podemos perceber que Ele não está indiferente e, portanto, confiantemente aguardar “a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo”, quando então a natureza inteira será libertada do poder do pecado que a coage a viver no mal.
Nesse ínterim, sofremos a dor, o desastre, a perda irreparável, o horror, a catástrofe, que não são para o nosso bem, nem permitidos pela Sua onisciência para algum objetivo misterioso, e nem acontecidos pela Sua falta de ciência. Tudo simplesmente advêm da condição do mundo no qual vivemos. Entretanto, o que é certo, é que Ele está aqui também, conosco (e nesse sentido Ele se constrói na História), vivendo cada momento ao nosso lado, simpático a nós. A mensagem da Igreja é que há uma saída, que o túnel não está fechado, que a luz não está apagada, que Deus não nos abandonou, que a dor e a morte não é o meio e nem o fim. Essa é a boa-nova: “...estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor” (Romanos 8.38 a 9.1). Só pensando assim é que é possível entender o grito eufórico de Paulo: “Onde está, ó morte, o teu aguilhäo? Onde está, ó inferno, a tua vitória?” (I Coríntios 15.55).

Um comentário:

  1. Moisés, profundo essa sua reflexão, é claro que a primeira vista,para os que Lê, Deus criou tudo e deixou o resto pra gente se virar(kkkk) Mas te conhecendo um pouco sei que não acha isso! Acho até que minha proxima pregação na igreja vai ser em cima deste texto. Vou orar! um abraço e parabéns pelo Blog. se estiver com tempo visita o meu http://marcelo.tyco.blog.uol.com.br

    criticas são bem vindas, dede que sejam construtivas ! abraços.

    ResponderExcluir

Deixe aqui o seu comentário.