ADVERTÊNCIA

Este Blog contém algumas de minhas ideias, crenças e valores. Por não ter o objetivo de ser referência, não deve ser acolhido como "argumento de autoridade" e, muito menos, como verdade demonstrativa, cartesiana.

Aqui o leitor encontrará apenas reflexões e posições pessoais que poderão ser peneiradas e, por isso mesmo, rejeitadas ou aceitas, odiadas ou amadas. Assim, não espere encontrar fidelidade a alguma linha de pensamento ou a uma ideologia em particular. Permito-me a contradição, a incerteza, a hesitação, a descrença, a ironia; permito-me pensar.

Após as leituras, sei que uns concordarão, outros não, e haverá também os que encerrarão a visita levando uma pulga atrás da orelha. Não me importo. Se causar alguma reação, mesmo o desassossego, considero que atingi o meio. O fim fica por sua conta.

Abraços a todos e boa leitura.

PS: Acesse também: http://moisesolim1.blogspot.com.br/

sábado, 18 de junho de 2016

CHEIOS...

Ah... como nos enchemos de ritos, de detalhes, de afazeres, de crenças e valores, de discussões teológicas intermináveis e indetermináveis, de cores, de dobrinhas, de formas, de belas e fortes reflexões, de fogo, água, língua, linguagens... Tudo para esconder aquele diabo de dentro de nós.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Se é angustiante ignorar,
horridante é oniscientizar.
A angústia nos humaniza.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

VONTADE PERMISSIVA


Vontade permissiva? Exemplifico:

Sou médico e, apesar de minha capacidade e juramento de que “manterei o mais alto respeito pela vida”, recuso-me a assistir o que precisa de mim.
 
Sou bombeiro, mas vejo a vítima se afogando ou se queimando e nada faço, apesar de meu treinamento e de ter jurado: “Prometo... dedicar-me... à segurança da comunidade, mesmo com o risco da própria vida".
 
Sou pai, responsável pela criação, guarda e desenvolvimento de meu filho. Apesar disso, abandono-o ao acaso dos acontecimentos, sem que ele possa se defender dos riscos desse abandono.

Fui claro em minha breve explicação do que seja “vontade permissiva”?
 
Entretanto, seja o médico, o bombeiro ou o pai, todos sofrerão punições disciplinares e de responsabilidade penal e civil em decorrência da omissão. Noutros termos, não há isenção de responsabilidade quando se deixa de agir por negligência, nem que a ela se procure dar uma roupagem de desprendimento moral e ética. É atitude criminosa e ponto.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

O que é a vida?

A vida? É só isso: a significância da insignificância.

sábado, 9 de agosto de 2014

A ilusão da objetividade...



Quem pensa que todos veem o que ele vê, engana-se a si mesmo, sofre a incompreensão;  tudo o que se vê, que se ouve, que se toca, que se prova, que se sente, funda-se na subjetividade; somente um acordo poderá tornar a experiência individual - ajustada, recortada, girada, ampliada e compactada, reinterpretada ou, numa palavra, amplamente negociada,  - em uma realidade comum para o grupo. A própria objetividade é fruto dessa negociação, já que, antes de ser objetiva, passou pela formação essencial da subjetividade.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Nada mais correto:

O burro, irritado com as homices de seu colega, se vira e diz: - Você é muito homem!

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Ando pelas ruas e vejo o que vejo...
Não preciso de uma vida para a teologia
Mas de uma teologia para a vida...

domingo, 15 de setembro de 2013

Eu

Quero apenas ser eu... Mas qual deles? Como diria o Mário: "eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta".

Linguagem e mundo

Há, ainda, muitos mundos a serem materializados pela linguagem...

sábado, 24 de agosto de 2013

Nascer de onde?



        “Respondeu Jesus e disse-lhe: na verdade, na verdade te digo: se alguém não for gerado do alto não pode ver o reino de Deus.(...) Não te admires porque te disse: necessário vos é ser gerado do alto." (João 3.1-7)
          Na voz  ativa, o verbo grego guenáo significa “gero”, “faço nascer”, “produzo”; na voz média, guenáomai  tem o sentido de “crio”, “faço nascer de mim mesmo”, “produzo de mim mesmo” e, daí, “nasço”. A forma que aparece no texto de João é guenethê, um subjuntivo aoristo na voz passiva,  cuja tradução literal é “se for gerado”. Assim, não é possível encontrar, na base verbal, nenhuma idéia de repetição "de novo". Se assim fosse, com a mesma raiz verbal prefixada por uma forma adverbial, a língua grega possui o verbo anaguennáo que carrega o sentido de “renasço”, “nasço de novo”.
            Das formas empregadas, chamamos a atenção, ainda, ao termo ánothen, que também é fonte de problemas quanto a sua tradução. Trata-se de um advérbio sintético constituído por dois elementos: o primeiro é áno “em cima”, cujo antônimo é káto: "abaixo", "debaixo". Uma exemplificação farta pode ser citada do emprego de áno no Novo Testamento:
             “E prosseguiu: Vós sois cá de baixo, eu sou de cima (áno); vós sois deste mundo, eu deste mundo não sou.”[1] 
            “Mas a Jerusalém de cima (áno) é livre, a qual é nossa mãe” [2]
            “De acordo com o objetivo, eu estou em movimento em direção ao prêmio do alto (áno) chamado de Deus em Cristo Jesus.”[3]
            “Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as cousas lá do alto (áno), onde Cristo vive, assentado à direita de Deus.   Pensai nas cousas lá do alto (áno), não nas que são aqui da terra”.[4]

            “Tiraram então a pedra. E Jesus, levantando os olhos ao alto (áno), disse: Pai, graças te dou porque me ouvistes” [5]
            E mostrarei prodígios em cima (áno) no céu; e sinais embaixo na terra, sangue, fogo e vapor de fumaça.”[6]

            O segundo elemento é -then, uma partícula que indica origem, com noção de lugar “de onde”. Com ela se tem várias construções adverbiais como: enguýthen, "de perto"; éndothen, "de dentro"; pórrothen, "de longe"; kátothen, "de baixo"; e também, ánothen, "de cima", "do alto", "a partir de cima". 
           Ánothen também é empregada várias vezes no Novo Testamento, como em:
            “Eis que o véu do santuário se rasgou em duas partes, de alto (ánothen) a baixo : tremeu a terra, fenderam-se as rochas...” [7]
            “Respondeu Jesus: Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima (ánothen)  não te fosse dada; por isso quem me entregou a ti, maior pecado tem.”[8] 
            “Toda boa dádiva e todo dom perfeito é lá do alto (ánothen), descendo do Pai das luzes, em que não pode existir variação, ou sombra de mudança”[9] 
            “Esta não é a sabedoria que desce lá do alto (ánothen); antes é terrena, animal e demoníaca.    A sabedoria, porém, lá do alto (ánothen) é, primeiramente, pura; depois, pacífica, indulgente, tratável, plena de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem fingimento.”[10] 

            Em todos esses contextos, a mesma palavra grega foi traduzida por “do alto” ou afins, e não por “de novo”, como em João, pois o conteúdo semântico de ánothen é “vindo de cima” ou “de cima para baixo”.  Está aí apontado um dos problemas de tradução do Novo Testamento.


[1]  João 8.23
[2] Gálatas 4:26
[3] Filipenses 3:14
[4] Colossenses 3:1 e 2
[5] João 11:41 
[6] Atos 2:19
[7] Mateus 27.51
[8] Marcos 15.38
[9] João 19.11
[10] Tiago 1.17

quarta-feira, 12 de junho de 2013

A FÉ EM ABSTRAÇÃO E EM CONCRETUDE: O JOGO ANTITÉTICO DE CRER-SER E SER

Moisés Olímpio Ferreira


"Aquele que diz que continua permanecendo nele deve, assim como ele andou, também [assim] andar." (1 João 2.6)

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O contexto imediato desse versículo fala sobre “conhecer” Deus, em que conhecê-Lo é estar nEle, e estar nEle é conhecê-Lo. Segundo João, temos uma referência segura: e nisto sabemos (estamos na ação contínua de saber) que o conhecemos (que estamos no ato concluído de conhecer) se os mandamentos dele guardarmos (se estivermos no ato contínuo de guardar)” – 2.3.
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Desse versículo, chama-nos a atenção os aspectos em que se encontram os verbos. Para o escritor, só é possível ter a certeza presente (em ato contínuo, atualizado) de que se tem conhecimento (em condição de estado completo) de Deus, quando se está no ato presente (contínuo, atualizado) de guardar os Seus mandamentos.
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O apóstolo enfatiza essa mesma idéia, por meio de repetições (2.4):
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"O que está dizendo que: ‘Eu o conheço’ (estou na condição acabada de conhecer), e em relação aos mandamentos dele não é vigilante (não está no ato contínuo de guardar/manter guarda), falso é e nele a verdade não está."
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A ênfase está sobre o ato contínuo de guardar como evidência externa de se ter atingido a condição de conhecimento a respeito de Deus. É evidente que conhecer não está no sentido de “ouvir dizer” ou de “ter informações a respeito de”, ou de “ter formação acadêmica religiosa sobre”; na verdade, trata-se de “manter relações pessoais estreitas”, “experimentar”, “identificar-se”, “relacionar-se”. Alguém pode afirmar, por diversas razões, que o conhece, mas para João isso só é verdadeiro caso se possa observar uma permanência contínua nEle e não um ato histórico, mesmo que empírico, passado.
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O versículo 5 enfatiza essa idéia como evidência de completude. O amor em seu estado completo está naquele que continuamente guarda (numa relação de mão dupla: guarda porque ama - ama porque guarda):
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"Ele, se guardar (se estiver guardando) a palavra dele, verdadeiramente nele o amor de Deus está completo; nisso estamos conhecendo que nele estamos."
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Atingir o amor de Deus como um estado (e se aqui o “amor de Deus” puder ser equivalente ao “amor a Deus” - o que parece mais óbvio – teremos a seguinte afirmação: verdadeiramente o amor que ele tem a Deus está completo) está na mesma condição, marcada por uma eventualidade "se", que chegar ao conhecimento dEle. Tanto um quanto o outro estão sujeitos à realização de um ato contínuo que pode ou não se realizar: se estiver guardando.
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Em razão da existência dessa condição, João mostra que é possível viver apenas do que é semelhante, e então estabelece o jogo entre “parecer-ser” e “ser”:
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De um lado:
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Temos aquele que diz, o que afirma ser; o que parece ser, mas não é. Vive nas e das aparências. Aquele que parece-ser, mas não é: vive no ato contínuo do erro, porque não guarda.
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"Aquele que diz" não tem paracleto, embora o sacrifício seja em prol de todos. O que parece-ser afirma: “conheço”, mas mente.
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O que parece-ser, porque apenas diz mas não guarda, não tem a plenitude do amor de Deus nele; o seu amor a Deus certamente tem razões impróprias.
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De outro lado:
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Temos aquele que guarda os mandamentos, o que é vigilante.
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Aquele que parece-ser e é: ele pode ocasionalmente errar, mas não vive na prática do erro. Daí o uso do aspecto verbal grego no aoristo que indica ação pontual e, do modo subjuntivo, que indica eventualidade: “Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não erreis” 2.1.
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Aquele que é tem paracleto junto a Deus. “Se alguém errar, temos um advogado para com o Pai...” 2.2 - O ato do erro novamente está marcado pelo aspecto e modo do verbo que remetem à pontualidade e eventualidade. Essas condições são próprias apenas aos que são, porque guardam.
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O que é, não afirma necessariamente, mas está no ato contínuo de guardar e, por isso, conhece.
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O que é, porque vive no ato de guardar, conhece de forma plena o que significa amar a Deus.
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A questão joanina, portanto, é: dizer pode não evidenciar o ser. Para ele, a afirmação só é válida quando acompanhada das evidências que a comprovem. A fé apresentada apenas enquanto afirmação psicológica ou ato experimental passado está morta, pois não é evidenciada pelas ações no presente (cf. Tiago 2.17). Fé nunca foi sinônimo de simples emoção, de afirmações positivistas, de crença mental, de ato pessoal histórico; sempre está relacionada a atitudes concretas, a ações perceptíveis, a atos sensíveis atualizados que dela são provenientes.
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Em 1 João 2:6, o “dizer ser” passa a ser válido somente quando está submetido ao “dever ser”:
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"Aquele que está dizendo que está permanecendo nele DEVE, assim como ele andou, também [assim] estar andando."
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Não se trata de uma ação opcional. Permanecer em Cristo exige ações concretas tais como as dEle. A palavra da vida não reside no pensar-ser em abstração, é fazer-ser em concretudo. Para evitar espiritualizações de suas palavras, João exemplifica (v. 9):
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"O que está dizendo estar na luz e ao mesmo tempo despreza a seu irmão, na escuridão está até agora."
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As palavras ditas não amparadas no fruto do Espírito Santo são incompatíveis com a ideia do ser. Esse alguém pretende convencer a si e aos outros de que está na luz por meio de afirmações positivas ou por fé psicológica, mas ele não anda como Cristo andou, não guarda os mandamentos dEle e, portanto, engana-se completamente, é mentiroso, está em treva.
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Não é aquele que diz que permanece na luz, mas aquele que ama a seu irmão (v.10): " quem está amando a seu irmão, na luz está permanecendo". Quem despreza, mesmo que afirme estar em Cristo, está fora da luz (na treva), anda na escuridão, não sabe seu destino, está cego (vs. 10 e 11).
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João chama a atenção de seus leitores. Ele reforça a necessidade de uma comunidade ativa, realmente em comunhão; ele condena as palavras vazias, ocas, que não estão preenchidas com ações. Em 3.18 ele diz: "Filhinhos, não estejamos no ato de amar com palavra, nem com língua, mas em obra e (em) verdade".
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A epístola de 1 João está repleta de convocações ao crer ativo:
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3:10, 11: "nisso são manifestos os filhos de Deus e os filhos do diabo: todo aquele que não faz justiça não é da parte de Deus, e (também todo) aquele que não ama a seu irmão. Porque esta é a mensagem que ouviste desde o princípio: que amemos uns aos outros."
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3:23: "E este é o seu (de Deus) mandamento: que creiamos no nome do seu filho Jesus Cristo e amemos uns aos outros, como deu-nos mandamento."
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4.7: "Amados, amemos uns aos outros, porque o amor é de Deus (vem de Deus), e todo aquele que está amando, de Deus é nascido (está na condição de nascido) e está conhecendo Deus."
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4:20, 21: "Se alguém diz que ama a Deus e a seu amor despreza, mentiroso é; pois, o que não ama o seu irmão que vê, não pode amar a Deus que não vê. E temos este mandamento dele: que o que ama a Deus, ame também o seu irmão."
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Mas essas convocações são ao amor concreto, visível, perceptível; são convocações à fé-ação. Não está se pensando em explosões de emoção, de lágrimas, de gritos, e muito mesmo em afirmação doutoral ou de orgulho fétido de algum dogma denominacional.
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Para deixar bem claro, João dá outro exemplo nada espiritualizado (3.17):
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"Ele, se tiver meio de viver do mundo e contemplar o seu irmão tendo necessidade e fechar as suas entranhas, como o amor de Deus permanece nele?"
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A voz paulina ecoa na mesma direção quando exorta Timóteo a que isso ensine em sua comunidade:
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"Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos; que façam o bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente e sejam comunicáveis; que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna" (I Tim. 6.17-19).
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Se considerarmos a recomendação de João (“como Cristo andou devemos nós andar”) apenas sob a dimensão espiritual – e é o que ele parece rejeitar -, o cristão tenderá a fechar-se em seu universo religioso e a renunciar seu papel de produtor de transformação; ele se limitará a abraços, a sorrisos, a apertos de mãos sem compromissos reais com o outro, ou a discussões teológicas inúteis, a afirmações de fé calcadas em raciocínios ludibriantes; a ritos, a dogmas envelhecidos e petrificantes.
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Os mandamentos de Cristo requerem muito mais do que relações de boa vizinhança, sem comprometimento e sem aproximação; exigem muito mais do que a pregação sobre o amor; esperam muito mais do que um conjunto normativo de regras para o bom comportamento; reclamam muito mais do que uma defesa de fé abstrata e do que reuniões dominicais não raras vezes enfadonhas: eles geram a prática em sujeitos sociais, em homens e mulheres que produzem e alteram o seu ambiente, porque estes amam a Deus, guardam seus mandamentos, conhecem-no.
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Criamos o hábito de parecer-ser, de dizer que somos de Deus, de que estamos em Cristo... Entretanto, não podemos esquecer que o foco sempre está no ser-fazer.
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Essas reflexões me fazem lembrar das palavras do Mestre, sobre as quais devemos sempre meditar:
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Mateus 7:21-27: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.
Muitos me dirão naquele Dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E, em teu nome, não expulsamos demônios? E, em teu nome, não fizemos muitas maravilhas?
E, então, lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade.
Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha.
E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha.
E aquele que ouve estas minhas palavras e as não cumpre, compará-lo-ei ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia.
E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e caiu, e foi grande a sua queda.”