ADVERTÊNCIA

Este Blog contém algumas de minhas ideias, crenças e valores. Por não ter o objetivo de ser referência, não deve ser acolhido como "argumento de autoridade" e, muito menos, como verdade demonstrativa, cartesiana.

Aqui o leitor encontrará apenas reflexões e posições pessoais que poderão ser peneiradas e, por isso mesmo, rejeitadas ou aceitas, odiadas ou amadas. Assim, não espere encontrar fidelidade a alguma linha de pensamento ou a uma ideologia em particular. Permito-me a contradição, a incerteza, a hesitação, a descrença, a ironia; permito-me pensar.

Após as leituras, sei que uns concordarão, outros não, e haverá também os que encerrarão a visita levando uma pulga atrás da orelha. Não me importo. Se causar alguma reação, mesmo o desassossego, considero que atingi o meio. O fim fica por sua conta.

Abraços a todos e boa leitura.

PS: Acesse também: http://moisesolim1.blogspot.com.br/

domingo, 13 de junho de 2010

Ser cristão não basta?

Os problemas do cristão da minha geração passaram por diversas etapas. Em certa época, o que importava acima de tudo era definir se se era "pentecostal" ou "tradicional". Estes se envaideciam porque se sentiam "cultos" (não sendo, de fato, na maioria dos casos) e, não poucas vezes, estavam "salvos para sempre" mesmo se vivessem de modo devasso. Aqueles, porque se achavam "poderosos" (não havendo, na maioria dos casos, nada mais do que barulho, sentimentalismo e pouca mudança de vida) e "quentes", em oposição aos "frios/gelados" e, não poucas vezes, eram "salvos até que pecassem".

De fato, do medo do inferno que estava sempre aos pés dos fiéis, surgiram as inúmeras listas do "pode" e do "não pode" da poderosa, fogosa e condenatória igreja pentecostal brasleira. Internamente, a lista que fosse mais rigorosa identificaria o grupo mais santo. E isso, creiam, realmente fazia toda a diferença; os da Assembléia de Deus eram mais puros e mais salvos do que os d'O Brasil para Cristo; estes eram tidos por aqueles como crentes desviados que precisavam voltar à pureza primitiva.

Mas não me esqueço que, a seu modo (porque não era o comportamento que contava, uma vez que se estava salvissíssimo, mas a doutrina em particular), os "sempre-e-sempre-salvos" também tinham isso: os batistas "regulares" eram ainda mais-puros (talvez pretendendo um lugar mais próximo de Cristo no céu) do que os da "convenção", que estavam fora da retíssima regula. Entre os presbiterianos não era diferente. Como se vê, a ridicularidade era imanente às instituições.

A pergunta "de que igreja você é?", naquela época, era ou para estabelecer, primeiramente, o lado da cerca sagrada em que se estava posicionado (quente ou frio, ignorante ou culto), e depois para medir o grau de santidade e pureza.

Depois, os da "tradição" desapareceram do mundo real. Ficaram restritos ao mundo do mito, do "era uma vez", à sua "cultura", com aquelas reuniões mais parecidas com encontros de amigos da associação de bairro, ou a uma liturgia que, tirando Maria, ficou muito próxima à dos católicos (com todo respeito aos irmãos católicos; e destes, a história fala por si só).

Os do "poder", por sua vez, evoluíram, mas era de esperar, de modo negativo. Enquanto os do "orgulho de ser isso ou aquilo" deixaram seus rabos escondidos nas pernas (ou por covardia ou porque sabiam o que carregavam) e ficaram adorando santamente as suas instituições, os do "fogo sob o pé" tiraram os deles da calça e os mostraram para todo mundo desavergonhadamente.

Assim, enquanto uns roncavam em seu hibernal sono imaculado (seja pelo efeito de estarem se afogando nas mais santas águas profundas ou em gotículas que sobre as cabeças magicamente produziram o mesmo resultado, seja pela ausência de oxigênio das alturas críticas metodológias...), outros, saltavam da caixa como joõesbobos, alegrando o público com suas aberrações coloridas; inflados com o "poder", conduziam-no ao movimento alucinante que tonteia toda razão.

Nesse tempo, entre os pentecostais, a importância era dada à "igreja" a que se pertencia (e nessa altura do campeonato, os tradicionais tradicionais [fundamentalistas de coração] estavam trancados nas 4 paredes de suas igrejas, amedrontados, procurando respirar o "puro ar" de suas doutrinas. Lembro-me de planfletos que circulavam entre eles que exigiam a separação total em relação aos pentecostais, porque estes conduziam o povo ao inferno. De fato, havia algum fundo de verdade nisso). Era-se avaliado a partir do nome da denominação. Dizer apenas "pentecostal" não valia nada. Começaram, então, a valorizar aquilo que consideravam "gelo sob o pé"; se se era "batista", por exemplo, podia-se acreditar na "boa palavra", o que efetivamente não tinha o menor valor de verdade.

Mas não serei injusto, porque os "quentes" quiseram romper o circo que se instalava com todas as atrações, e para isso pretendeu-se separar os "históricos" dos "não-históricos (sem-históricos? contra-históricos? neo-históricos?). Para distinguir "crente" e "CRENTE", começou-se a dizer, então, "evangélico". "Você é crente?", "Não, sou evangélico". Pronto. Agora se tem uma identidade. Nada disso! O novo rótulo não garantiu, como por encanto, a mudança do conteúdo. Dois problemas surgiram a partir daí: Não só o novo título se popularizou e os novos convertidos ao desvangelho do "poder financeiro" se apoderaram dele, mas também, líderes "históricos" inflados com o mesmo sopro dos neopentecostais puseram a perder a "grande" (com todas as aspas possíveis) tentativa de santificação.

O que dizer hoje? Crente? Evangélico? Como tudo de certa forma ficou homogeneizado, parece que nenhum título tem poder de distinção. Dizer "sou da igreja X" parece não mais fazer sentido no mundo religioso brasileiro. Estamos sem referência. Parece que agora apagaram-se as luzes e "ninguém mais é de ninguém". Até os tradicionais entraram na nova-onda.

Costumo dizer que sou "cristão", mas quando digo isso, a impressão que tenho é a de que esperam algo mais de mim. Instala-se, de súbito, um silêncio, um olhar estranho, um mal-estar. Parece que consigo ler os pensamentos dizendo: é um desviado da "igreja", mesmo sendo cristão.

Mas isso não bastaria? Nos primeiros séculos, sim. De qualquer forma, é tudo o que lhes direi, quer gostem ou não. E se quiserem mais, lhes apresentarei a cruz; e se ainda mais, o sopro que nunca tiveram. Se insistirem me perguntando de que "igreja" sou, direi que sou da "de Cristo", porque não serei mais de nenhuma outra, como todos os que autentica e ainda corajosamente estão "em Cristo".

MF

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