ADVERTÊNCIA

Este Blog contém algumas de minhas ideias, crenças e valores. Por não ter o objetivo de ser referência, não deve ser acolhido como "argumento de autoridade" e, muito menos, como verdade demonstrativa, cartesiana.

Aqui o leitor encontrará apenas reflexões e posições pessoais que poderão ser peneiradas e, por isso mesmo, rejeitadas ou aceitas, odiadas ou amadas. Assim, não espere encontrar fidelidade a alguma linha de pensamento ou a uma ideologia em particular. Permito-me a contradição, a incerteza, a hesitação, a descrença, a ironia; permito-me pensar.

Após as leituras, sei que uns concordarão, outros não, e haverá também os que encerrarão a visita levando uma pulga atrás da orelha. Não me importo. Se causar alguma reação, mesmo o desassossego, considero que atingi o meio. O fim fica por sua conta.

Abraços a todos e boa leitura.

PS: Acesse também: http://moisesolim1.blogspot.com.br/

quinta-feira, 31 de maio de 2007

SERVO: A MAIS PROFUNDA ENTREGA, O MAIS HONROSO LUGAR


Moisés Olímpio Ferreira

Certa vez, a mãe de Tiago e João pediu a Jesus um lugar especial para os seus dois filhos (Mateus 20.21). Fico imaginando aquela circunstância. Sem dúvida, os ouvintes se apertaram tanto quanto as pessoas do metrô da zona leste de São Paulo às 7h00 da manhã, curiosos, para ouvir o que Ele tinha a dizer a respeito.

Talvez um outro já tinha pensado em fazer o mesmo pedido para si mesmo e por isso se irritou por causa daquela mãe “estraga-prazeres”; outros que nunca tinham pensado nisso, possivelmente ficaram tentados a gritar “- eu também quero”, “ – eu também quero!” ; quem sabe Judas até pensou em negociar os melhores lugares ao lado do Mestre em troca de algumas moedas (afinal, é dando que se recebe, não é?).

Estava armada a confusão. Empurra-empurra, aperta-aperta, passa-passa. Naquela hora, valeria tudo: “- Além de discípulo, eu também sou sócio na mesma indústria de pescado deles!”, diria Pedro.

Quem sabe o melhor seria organizar tudo: “- Vou propor uma fila indiana. Assim, seria respeitada a ordem de chegada de cada um para reservar o lugar no Reino”, diria alguém preocupado com a aparência e o bem-estar do momento.

“- Duvido que isso dará certo”, afirmaria Tomé. “ – Acho que a ordem deve ser a alfabética”, proporia André. Tiago, certamente, protestaria veementemente contra essa sugestão ridícula.

Naquele momento, o “relógio” parou! Posso estar enganado, mas acho que ele parou mais do que com Josué. Silêncio total. Como diríamos hoje, dava para ouvir um lenço caindo.

Não sabemos se Tiago e João esperavam tal pedido de sua mãe; se não, fico imaginando a cara deles: vergonhosos, inquietos, sorrisos amarelos, cabeça baixa... Que gafe!

Não sei. Talvez se considerassem realmente dignos de um lugar especial e, por isso, estavam de acordo com a mamãe e, assim, os olhos estariam brilhantes e os lábios pendurariam sorrisos largos, pensando que, por pedirem primeiro, os melhores lugares estariam garantidos. Afinal de contas, eram filhos de Zebedeu, homem abastado, que tinha empregados e que era um exportador de peixes da Galiléia para Roma! Como o pai tinha dinheiro, mereciam um lugar especial no Reino!!

Sua mãe chamava-se Salomé (cf. Marcos 15:40). Ela era uma das que contemplaram a crucificação de Jesus. Se “a irmã dela” em João 19:25 for a Salomé de Marcos 15:40, João era primo de Jesus por parte de Maria. Talvez, então, Salomé quisesse usar seu parentesco de tia de Jesus para obter algum benefício. Afinal de contas, João e Tiago seriam seus primos!

Não sei exatamente o que pensaram, mas sei que arrumaram uma confusão danada. O texto diz que ...quando os dez ouviram isso, indignaram-se contra os dois irmãos (Mateus 20.24).

Seja como for, nenhuma pergunta chamou tanto a atenção dos discípulos como aquela. Quando se trata do “meu” quinhão, não há nada mais importante no mundo a ser tratado (diferente de hoje???). Todos estavam ao lado de Cristo desde o começo e não aceitariam essa situação sem discussão. Instalou-se o mal-estar.

Foi então que Jesus, aproveitando a situação, ensina:

Sabeis que os governadores dos povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade sobre eles. Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo; tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos (Mateus 20.25-28).

Devo admitir que a resposta de Cristo causa estranhamento no mundo hodierno. É intrigante porque “servir” é algo ultrapassado nos discursos que hoje podemos ouvir na TV, no rádio ou ler em grande parte da atual literatura evangélica. Lemos e ouvimos muito sobre “determinação”, “recuperação dos bens perdidos”, “tomar posse”, “dar dinheiro para ter mais dinheiro”.

O cristão do século XXI está destinado à descaracterização de sua posição de servo passando a ser um novo senhor: senhor da criação, senhor de si mesmo e até senhor do Senhor. Mesmo com pouca pesquisa bíblica, é muito fácil detectar que “servir” a Deus não é exatamente o que hoje somos ensinados a viver.

O que me preocupa no cristão moderno é a sua cobiça de poder, é a sua fome de títulos, é a sua ambição pelo triunfo financeiro. Contaminado pela corrida mercadológica mundana, o cristão vive para realizações e sucessos que exigem dele tanto sacrifício como qualquer outro tipo de devoção, tornando-o escravo de seus desejos e dos ídolos da sua sociedade religiosa.

Há vários líderes esdrúxulos, fora do padrão bíblico. E são esses que se tornaram modelos para a igreja moderna; a multidão cegamente os adora!! Por terem contas bancárias bem recheadas, os seus seguidores acreditam que são espirituais. Em razão dessa falsa associação, muitos são levados a tê-los como padrão de verdade.

É preciso nos lembrar do conselho de Paulo a Timóteo. O apóstolo ensina-o que a busca do sucesso, da prosperidade, das riquezas não são sinais de vida íntima com Deus:

Porque nada trouxemos para este mundo, e manifesto é que nada podemos levar dele.Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes. Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína (I Timóteo 6.7-8).

A orientação que a liderança da igreja tem tomado para o negócio lucrativo religioso (e para a ostentação de posições) tem transformado homens - que no passado foram servos da Cruz - em seres injustos, insensíveis e desumanos. Muitos são ludibriados pela grandiloqüência de suas próprias palavras, pelos aplausos da platéia, por suas obras faraônicas e até por sua cultura! Como resultado, acabam tendo suas consciências mortalmente afetadas, de modo que a Palavra de Deus não mais surte efeito. Acreditam em suas próprias ilusões e por isso as ensinam como verdades absolutas.

As Escrituras nos orientam em direção oposta a quase tudo que assistimos pela televisão (e a muito do que ouvimos em muitos púlpitos!). As Escrituras sempre serão o farol dos navegantes do imundo rio Mundo. Paulo alerta Timóteo quanto ao fato de que há homens que possuem mentes cauterizadas (insensíveis à verdade), que falam mentiras e procuram enganar os que estão no verdadeiro caminho da fé.

Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência (1Timoteo 4:1 e 2).

Nessas circunstâncias, o melhor conselho é: afasta-te dos tais! (Romanos 16.17). Não sejamos influenciados pelas manobras que eles utilizam torcendo as Escrituras a seu bel-prazer! Fujamos de sua manipulação!

Jesus chamou-nos de servos e os apóstolos não se envergonharam dessa posição. Todos eles reconheciam e ensinavam que servo é a condição de todo salvo em Cristo Jesus. Eles conheciam esse papel e o assumiam com singeleza de coração. Interessante é notar que o mesmo termo empregado para “servos do pecado” também é usado para “servos de justiça” (Rm. 6.16-18), de modo que ser doulos (escravo) de Deus implica submissão. Antes, éramos escravos do pecado vivendo na servidão da iniqüidade e fazendo suas vontades; agora, somos servos de Deus vivendo a liberdade da justiça em oposição à glória humana.

Aqueles que estão em Cristo vivem na liberdade de Deus, mas gozam-na por meio de Cristo, isto é, desfrutam refletidamente da liberdade que Cristo dá de Si, por Si e em Si mesmo. Assim, ao servo de Deus cabe a total dependência dEle.

Nesse conceito, a mensagem da Cruz é a de total entrega: E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim (Mateus 10.38). Que abandonada mensagem! Por não poderem rasgá-las de suas Bíblias, enterraram-na em seus discursos. Ao servo de Cristo está dado o papel da humildade, da pureza, da morte do velho homem, da Cruz: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me (Mateus 16. 2).

Na cruz, está a morte, a vergonha, a humilhação, o escândalo que firmam o nosso posicionamento contra o mundo e ratifica a novidade de vida que há no verdadeiro servo de Cristo. Cristo tomou a cruz histórica para capacitar-nos a tomar a nossa! Não a cruz de salvação, não a cruz para sermos dignos de salvação (jamais poderíamos sê-lo), mas a cruz do andar de modo digno do Cristo que nos salvou.

A profunda entrega nos protege das lisonjas humanas, dos interesseiros “tapinhas nas costas”, dos elogios perniciosos, das posições e dos projetos que engordam o “eu”, dos objetivos puramente materialistas, dos propósitos de conquistas para si mesmo ou para seu império pessoal, das esquizofrenias, das megalomanias que podem infiltrar-se em nosso interior e nos desviar da função cristã.
O autêntico servo deve saber que será perseguido quando toma a sua cruz. Não deve esquecer que será envergonhado por carregá-la; deve ter em mente que sofrerá danos por causa do autêntico evangelho. Entretanto, sabe que não foi chamado para ser um sucesso, mas para ser servo do Deus vivo com todas as implicações que disso advêm.

Sob os critérios religiosos atuais seria muito difícil nomear como ministros de sucesso aqueles que experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões... que foram apedrejados, serrados, tentados, mortos a fio de espada; que andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados (homens dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos e montes, e pelas covas e cavernas da terra (Hebreus 11.36-40), exceto quando erroneamente associam a devida prisão por crimes cometidos (como lavagem de dinheiro ou escondê-lo dentro da Bíblia, que em nada é mais santo do aquele que foi escondido na cueca) com perseguição injusta.

As regras do Reino de Deus são inversas às do nosso mundo. Nele, o maior serve o menor, o senhor lava os pés dos servos, o ofendido busca e oferece reconciliação, o amigo morre pelo inimigo, o bom perdoa o mau, o sacrifício é inferior ao amor, a ofensa é retribuída com perdão, o ódio é pago com amor, vale o que há no coração e não o que há na aparência. Assim, o Reino de Deus será composto por servos e não por senhores, todos operando para o bem comum. O mais honroso lugar no Reino é o de servo. Nós, do Filho Eterno; o Filho Eterno, de Seu Pai.

Jesus nos lembra: Não é o discípulo mais do que o mestre, nem o servo mais do que o seu senhor (Mateus 10.24). A resposta ao estúpido pedido daquela mãe foi: quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo; tal como o Filho do Homem...(Mateus 20.26).

Se quisermos nos parecer com Jesus, sigamos o exemplo de Cristo:

...existindo continuamente sob a forma de Deus, não de forma violenta conduziu-se para continuar sendo de modo igual a Deus, mas esvaziou a si mesmo, tendo tomado a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e tendo sido achado em aspecto como homem, humilhou-se, tornando-se submisso até a morte, morte de cruz (Filipenses 2.5-8).

Cristo abriu mão de sua glória, esvaziou-se dela, não defendeu Seus direitos reais com unhas e dentes, mas, fazendo-se homem, mostrou-se servo do Pai morrendo a morte humilhante de cruz: Eis aqui o meu servo, a quem sustenho, o meu eleito, em quem se apraz a minha alma; pus o meu espírito sobre ele; ele trará justiça aos gentios (Isaías 42:1-2).

Ser servo de Deus não é acumular conquistas e riquezas, não é manejar uma política fisiológica, não é ser um dono de grandes empresas, não é pertencer às altas posições eclesiásticas, não é fazer pactos, laços, alianças não transparentes com pretensões cristãs.

O servo de Deus entrega-se a Deus e permanece próximo do humano, do pecador, do pequeno, do simples, do necessitado para transmitir-lhe a Graça do Pai. Sua preocupação não é lançar luz sobre si mesmo, mas é apontar para seu Senhor. Ele não está interessado em ter sua foto divulgada em jornais, revistas ou TV porque reconhece que convém que ele diminua e seu Senhor cresça.

Cristo ...se entregou a si mesmo... (Gal. 2.20; Efésios 5.2 e 5.25) e foi pela sua total entrega que Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o SENHOR, para glória de Deus Pai ( Filipenses 2. 7-9).

A canção do servo deve ser: Servi ao SENHOR com alegria... (Salmo 100.2), servi ao SENHOR com temor, e alegrai-vos com tremor (Salmo 2.11), ...servi ao SENHOR com todo o vosso coração (1Samuel 12.10) porque ...quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer ( Lucas 17.10).

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